O ADVENTO DO NORDESTE NA CONSTRUÇÃO DE UMA IDENTIDADE NACIONAL
A
dicotomia entre sertão e litoral vem antes da chegada dos portugueses em terras
brasileiras. Desde o século XIV, os portugueses já se referiam ao “sertão” como
localidades dentro do seu próprio território, porém distantes de Lisboa. Aliás,
a grafia poderia ser tanto “sertão” como “certão”, palavra derivada de
desertão.
No
Brasil colônia, “sertão” passou a se referir a tudo que não fosse o litoral. Ou
seja, as terras localizadas no interior do continente, normalmente referidas como
morada dos “pretos da terra”, selvagens e bárbaros. Os malditos antropófagos
que se deliciaram com a carne suculenta do clérigo Sardinha.
Com
a chegada da industrialização, movendo o centro econômico das províncias do
Norte para o Sul do país, surgiu a necessidade de criar uma identidade nacional
apoiada na modernidade, tendo a civilização europeia como espelho. Afinal, o
século XIX foi palco das controversas teorias da Antropologia Evolutiva, que
tinham Morgan, Tylor e Fraser como a santíssima trindade do eurocentrismo. O
que não fosse europeu era considerado selvagem. Sobrou para o Norte a pecha de
região atrasada. O Sul, lar dos descendentes europeus, que vieram substituir a
mão de obra escrava no finalzinho do século XIX, era o locus da intelectualidade
antenada com a vanguarda europeia. Fruto desse pensamento surgiria em 1922, com
a Semana de Arte de Moderna.
A
dicotomia litoral X sertão estava mais viva do que nunca. O sertão agora era o
Norte, lugar do atraso, da lentidão e do carro de boi. Gilberto Freyre and
friends, para não ficarem atrás, lançam o Manifesto Regionalista, em 1926, e
utilizam dos conceitos pejorativos sobre o Norte rural para evocar as características
da verdadeira brasilidade. A dicotomia se transforma, dessa forma, em Sudeste X
Nordeste.
E
a fila anda...
Para ler mais:
JANAINA AMADO. Região, Sertão, Nação.
CLAUDIA VASCONCELOS. O
sertão na construção da brasilidade.