domingo, 21 de abril de 2019



O ADVENTO DO NORDESTE NA CONSTRUÇÃO DE UMA IDENTIDADE NACIONAL


A dicotomia entre sertão e litoral vem antes da chegada dos portugueses em terras brasileiras. Desde o século XIV, os portugueses já se referiam ao “sertão” como localidades dentro do seu próprio território, porém distantes de Lisboa. Aliás, a grafia poderia ser tanto “sertão” como “certão”, palavra derivada de desertão.

No Brasil colônia, “sertão” passou a se referir a tudo que não fosse o litoral. Ou seja, as terras localizadas no interior do continente, normalmente referidas como morada dos “pretos da terra”, selvagens e bárbaros. Os malditos antropófagos que se deliciaram com a carne suculenta do clérigo Sardinha.

Com a chegada da industrialização, movendo o centro econômico das províncias do Norte para o Sul do país, surgiu a necessidade de criar uma identidade nacional apoiada na modernidade, tendo a civilização europeia como espelho. Afinal, o século XIX foi palco das controversas teorias da Antropologia Evolutiva, que tinham Morgan, Tylor e Fraser como a santíssima trindade do eurocentrismo. O que não fosse europeu era considerado selvagem. Sobrou para o Norte a pecha de região atrasada. O Sul, lar dos descendentes europeus, que vieram substituir a mão de obra escrava no finalzinho do século XIX, era o locus da intelectualidade antenada com a vanguarda europeia. Fruto desse pensamento surgiria em 1922, com a Semana de Arte de Moderna.

A dicotomia litoral X sertão estava mais viva do que nunca. O sertão agora era o Norte, lugar do atraso, da lentidão e do carro de boi. Gilberto Freyre and friends, para não ficarem atrás, lançam o Manifesto Regionalista, em 1926, e utilizam dos conceitos pejorativos sobre o Norte rural para evocar as características da verdadeira brasilidade. A dicotomia se transforma, dessa forma, em Sudeste X Nordeste.
E a fila anda...

Para ler mais:

JANAINA AMADO. Região, Sertão, Nação.
CLAUDIA VASCONCELOS.  O sertão na construção da brasilidade.