O MONOTEÍSMO NO EGITO ANTIGO
Apesar de sua natureza
proeminentemente politeísta, o Egito antigo passou por um curto período
dedicado ao monoteísmo. No Novo Império,
precisamente durante o governo de Amenhotep III, devido a disputas entre o faraó
e os sacerdotes de Amon, cresceu a importância dada ao deus Aton, o disco
solar.
Por
volta de 1400 a.C., Amenhotep III realizadou algumas transformações religiosas
em seu governo, dando maior espaço para Aton, uma divindade que já
existia no panteão dos deuses egípcios, mas como um deus de segunda
categoria. Com a morte de Amenhotep III, seu filho Amenhotep IV assume e
leva adiante as transformações
religiosas iniciadas por seu pai. Sua reforma religiosa é considerada
o episódio religioso-político mais controverso da história do Egito antigo.
Amenhotep IV superou seu pai,
elevando Aton a deus único, em detrimento das outras divindades egípcias,
tornando-o o deus supremo e obrigando todo o Egito antigo a se tornar
monoteísta. Amenhotep IV ampliou a importância de Aton a tal ponto que Amon
teve sua hegemonia reduzida até ser totalmente omitido das doutrinas.
Aton,
diferentemente das demais divindades egípcias, não tinha uma representação
antropozoomórfica, sendo representado por um sol cujos raios terminavam
em pequenas mãos. De fato, isso também constituía uma intensa alteração no que diz
respeito às formas figurativas pelas quais as divindades eram
retratadas no Egito antigo.
O
“Hino a Aton” exprime a grandiosidade pela qual se buscava
impor àquela sociedade: “És gracioso, grande, resplandecente e estás
muito acima de todas as terras. [...] O mundo surgiu pela tua mão
[...]”. De qualquer forma, Amenhotep IV promoveu
um monoteísmo agressivo, diminuindo a distância entre a divindade e a
família real, tornando-se quase semelhante ao seu próprio deus.
Amenhotep IV mudou a capital
de seu reino de Tebas para a nova Akhetaton (“Horizonte de Aton”), que seria a
cidade sagrada de Aton. Antes de mudar a capital, Amenhotep ("Amon está
satisfeito") IV mudou seu próprio nome para Akhenaton ("o espírito
atuante de Aton"), reforçando a negação a Amon por parte do rei e sua
ênfase em Aton.
Entretanto, apesar de toda sua
determinação em implantar o monoteísmo no Egito antigo, o povo reagiu de
maneira negativa a essa nova forma de religião. Os egípcios antigos estavam
acostumados aos contrastes entre a luz e a escuridão, bem como à luta entre o
bem e o mal. A doutrina de Akhenaton negava a dualidade, e enfatizava o aspecto
positivo, a luz. O mundo inferior, com seus demônios, não tinha lugar nos
conceitos da nova religião.
E aparentemente, mesmo aqueles
que seguiam Akhenaton não seguiam seus ensinamentos completamente. Escavações
indicam que as pessoas, ao menos em particular, mantinham suas crenças
tradicionais. Elas certamente sentiram a perda de seus deuses e de suas
doutrinas, o que corroborou para o retorno das antigas práticas politeístas
assim que Akhenaton deixou de existir.
Referências:
SALES,
José das Candeias. As
divindades egípcias. Uma chave para
a compreensão do Egito Antigo. Lisboa: Estampa, 1999.
SILVERVAN,
David. O divino e as divindades na antigo Egito. In: SHAFER,
Byron (Org.). As religiões no Egito antigo: deuses,
mitos e rituais domésticos. São Paulo: Nova Alexandria, 2002.
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