domingo, 23 de julho de 2023

 

O ANTICOMUNISMO NAS FORÇAS ARMADAS BRASILEIRAS



O anticomunismo existe desde o surgimento do comunismo, que se tornou uma ameaça para os líderes conservadores mundiais. Com o tempo, tornaram-se combatentes do comunismo os liberais, a Igreja Católica, os empresários e os militares.

Quanto aos militares, a sua participação na história do Brasil merece destaque, principalmente quando falamos sobre a República, inaugurada por eles, em nossa primeira experiência de Golpe de Estado, ainda em 1889. As Forças Armadas brasileiras acabaram se envolvendo não só em golpes, mas também intervenções repressivas e coercitivas, influenciando direta ou indiretamente nos rumos políticos de nosso país. Afinal, o número de militares que chegaram à Presidência da República chama atenção.

Nesse contexto, o discurso anticomunista exercido pelas Forças Armadas brasileiras precisa ser investigado. O Exército, em especial, não consiste em um grupo homogêneo, existindo divergências filosóficas e políticas em seu âmago, tanto no oficialato quanto nos postos inferiores. Entretanto, sendo uma organização estritamente hierarquizada, os grupos que assumem o seu controle tendem a impor sua ideologia à instituição, fazendo do discurso anticomunista fator de união entre os militares, sempre em prol da vigilância contra o “perigo vermelho”.

Interessante observar que até 1917, época da Revolução Russa, o comunismo não era motivo de preocupação para as elites conservadoras brasileiras. Somente com a criação do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e o Movimento Tenentista, ambos na década de 1920, a classe política conservadora dominante passou a se preocupar com a possibilidade de perda de poder.

Na década de 1930, o anticomunismo surgiu como uma das principais bandeiras das Forças Armadas brasileiras. Foi nesse período que houve a ascensão da figura de Luís Carlos Prestes (ex-militar), bem como da Aliança Nacional Libertadora (ANL), difundindo ideias comunistas para a população.

Entre 1935 a 1937 surgiu a primeira onda anticomunista militar no Brasil, com a deflagração da Intentona Comunista, movimento que surgiu dentro do seio militar, que teve ajuda da Internacional Comunista, e que levou a rebeliões em vários quartéis. A Intentona serviu de pretexto para a radicalização do governo Vargas contra o perigo comunista, levando à prisão jornalistas, intelectuais e militares de esquerda.

Nos meses seguintes, o governo decretou Estado de Sítio, expulsou os militares de esquerda envolvidos, acusando-os de traição à pátria e traição às Forças Armadas. Foi a partir desse momento que o Exército, em especial, elege o comunismo como principal inimigo.

Mas esse embate ideológico não foi exclusividade do Brasil. Nesse período, segunda metade da década de 1930, houve um fortalecimento de regimes autoritários, tanto de esquerda como de direita em todo o globo, somado a uma descrença com a democracia que vinha desde o fim da Primeira Guerra Mundial, culminando com a ascensão do Fascismo e do Nazismo na Europa.

A Intentona Comunista não foi, certamente, a primeira mobilização de militares de esquerda no Brasil. Antes disso, em 1922, o Movimento Tenentista já havia se posicionado contra a corrupção da República Oligárquica. Jovens oficiais do Exército se colocaram contra o governo, tomaram o Forte de Copacabana e acabaram mortos. Em 1924, houve nova ruptura dentro do oficialato do Exército, gerando a Coluna Prestes. Mas foi a Intentona que deu origem ao chamado discurso anticomunista nas Forças Armadas brasileiras.

A segunda onda anticomunista que tivemos ocorreu na década de 1960, com a repulsa à ascensão de João Goulart à Presidência da República por parte dos militares. Esse movimento resultou em mais um Golpe de Estado, tirando o comando do país do setor civil e colocando-o nas mãos dos generais do Exército.

Mais recentemente tivemos mais uma onda anticomunista, encabeçada pelos evangélicos, empresários e conservadores que levaram Jair Messias Bolsonaro, outro ex-militar, ao posto de presidente do Brasil.

 

 

Referências:

FERREIRA, José Roberto Martins. Os Novos Bárbaros: Análise do Discurso Anticomunista do Exército Brasileiro. São Paulo, 1986.

MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Em guarda contra o “perigo vermelho”: O anticomunismo no Brasil (1917-1964). São Paulo: Perspectiva, 2002.