sábado, 25 de fevereiro de 2017


AS REVISTAS ILUSTRADAS.




O nosso jornalismo nasceu oficialmente no inicio do século XIX, com a chegada da Família Real, que havia cruzado o oceano para escapar das garras de Napoleão Bonaparte. Ao chegar à sua colônia além-mar, Dom João VI autoriza a criação da A Gazeta do Rio de Janeiro, em 1808.

O gênero aos poucos se individualizou em face de outras formas de impressos periódicos. A Revista da Semana (Rio de Janeiro, 1900) é apontada como marco do surto - que se prolongaria por décadas - das chamadas revistas ilustradas ou de variedades.

Com apresentação cuidadosa, de leitura fácil e agradável, diagramação que reservava amplo espaço para as imagens e conteúdo diversificado, que poderia incluir acontecimentos sociais, crónicas, poesias, fatos curiosos do país e do mundo, instantâneos da vida urbana, humor, conselhos médicos, moda e regras de etiqueta, notas policiais, jogos, charadas e literatura para crianças, tais publicações forneciam um lauto cardápio que procurava agradar a diferentes leitores, justificando o termo variedades.

Tal uso cumpria função estratégica: diante do relativamente minguado público leitor/consumidor, o sucesso do negócio revista dependia de se conseguir ampliar ao máximo os possíveis interessados, permitindo incluir de tudo um pouco.

Em 1902, aparecia O Malho, outra importante revista de conteúdo humorístico. Ela duraria até 1954, tendo passado por várias transformações. Sua especialidade era a crítica política, realizada, principalmente, através das suas famosas caricaturas. O Malho foi uma das mais importantes revistas de crítica na República Velha, tendo, a partir de 1904, a ter um caráter mais político, com a colaboração de Olavo Bilac.

Já a revista Fon-Fon! cujo título foi inspirado em uma buzina de automóvel, foi uma revista que se baseava no glamour carioca. Tudo era com muita ilustração, fotografia, e também, muita literatura.

Assis Chateaubriand, dono do grande conglomerado Diários Associados, lançou O Cruzeiro, a revista que fechou um ciclo na história das revistas brasileiras. Com uma programação visual arrojada, privilegiando a fotografia e reportagens mais objetivas, O Cruzeiro logo dominou o mercado editorial tornando-se referência gráfica, literária e jornalística no Brasil.

O Cruzeiro, mais que informar, passou a interferir nos hábitos e costumes de uma sociedade, ou seja, passou a transformá-la. E, com isso adquiriu um grande prestígio, fazendo que outras revistas passassem a ingressar numa nova era, a da reportagem.

Já no ano de 1952 surgiu à revista Manchete , empregando uma concepção moderna, tendo como fonte de inspiração nitidamente a ilustrada Paris Match e utilizava, como principal forma de linguagem, a fotografia. Manchete foi semanário que mais utilizou a fotografia como principal forma de linguagem.

A Manchete atingiu logo de início um rápido sucesso, e, em poucas semanas chegou a ser a segunda revista semanal de circulação nacional mais vendida do país, ficando atrás apenas da renomada e, até então, hegemônica O Cruzeiro.




REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


LUCA, Tânia Regina de. História dos, nos e por meio dos periódicos. In: PINSKY, Carla (org). Fontes históricas. São Paulo: Contexto, 2008. p. 111-142.


MOURA, Ranielle Leal. História das Revistas Brasileiras: informação e entretenimento. VIII Encontro Nacional de História da Mídia. Guarapuava, PR. 28 – 30 abr. 2011.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017


MEMÓRIAS MUSICAIS



MOTTA, Nelson. Noites  tropicais. Solos, improvisos e memórias musicais. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.


Segundo o historiador Eric Hobsbawm, o breve século XX finda em 1989, ruindo junto com o muro de Berlim e o comunismo soviético.

Coincidentemente ou não é quando acaba o movimento do rock brasileiro. Nelson Motta, produtor musical, compositor, jornalista e escritor em seu livro Noites tropicais, mostra-nos o caminho traçado pela música brasileira no breve século XX, como se fosse um Hobsbawm das cordas, tambores e metais.

A partir do final da década de 1950, com o advento da modernização, surge nas praias cariocas a bossa nova, fusão do jazz americano e do samba do Rio de Janeiro; e com seu jeito inovador de tocar e cantar, João Gilberto cativa e seduz os amantes da boa música.

É nesse momento que surge, entre outros, Nara Leão, inicialmente empossada como musa da bossa nova, e anos depois a voz ativa do espetáculo Opinião, show da esquerda intelectual, contrário aos militares, já nos anos 1960.

De uma forma divertida e ritmíca, Motta discorre entre a jovem guarda, tropicália e rock. Chega a confessar passagens de foro pessoal, como o caso amoroso que teve com Elis Regina, segundo o autor, a maior cantora que ele conheceu, e acontecimentos pitorescos envolvendo Roberto Carlos e Tim Maia.

Testemunha ocular da história da música nos últimos sessenta anos, Motta descreve toda a sua trajetória realizada dentro do universo musical.

Obra indispensável para os amantes da música e da história cultural.

Play it again, Sam.


Conheça Nunca fomos tão brasileiros, da banda brasiliense Plebe Rude em www.hailrock.blogspot.com.br/2017/02/lugarnenhum.html?m=1
  

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017


PERDENDO O BONDE.


DACANAL, José Hildebrando. Brasil: do milagre à tragédia (1964 – 2004). Porto Alegre: Leitura XXI, 2005.

 

Em seu ensaio, Brasil: do milagre à tragédia, o professor e jornalista José Hildebrando Dacanal, tenta traçar um paralelo entre os distintos países chamados Brasil, aquele das décadas de 1960/70, dominado pela mão dos militares e o Brasil da década de 2000, e seus problemas.

Dacanal expõe, entre outros pontos, o que favoreceu o surgimento do milagre brasileiro, como “resultado de um conjunto de fatores obviamente heterogêneos” (DACANAL, 2005, p. 15) que transformou um país de características agrárias, levando-o da pré-história à era do petróleo, dos transportes rápidos e das comunicações internacionais.

Entretanto, segundo o autor, o esgotamento do projeto militar, pressões externa e interna, entre outros fatores, levaram o país à década perdida dos anos 1980.

Dacanal é enfático em nos mostrar que o vácuo criado pelo retorno dos militares aos quartéis e a devolução do comando do país à sociedade civil, promoveu o retorno da velha elite política, que afastada do poder há mais de duas décadas, só tinha em mente o projeto de se apropriar do Erário Público, “[...] na senda da secular tradição das classes dominantes ibéricas, cuja visão patrimonialista sempre englobou, antes de tudo, o próprio Estado e os recursos de que ele se adona [...]” (DACANAL, 2005, p. 55).

Prova disso foi a enxurrada de concessões políticas na Era Sarney, com o único objetivo de se comprar apoio político. Tal nefasta artimanha seria copiada em governos futuros, vide a compra de apoio para a aprovação da emenda constitucional que permitiria a reeleição para chefes do Executivo, realizada no governo de Fernando Henrique Cardoso, ou no processo do mensalão do governo Lula.

Segundo o autor, “[...] esse perverso conúbio das velhas oligarquias com as novas forças gestadas [...] visava como sempre, à pilhagem do Estado” (DACANAL, 2005, p. 56).

Indo além, Dacanal expõe, o que para ele se transformou o Partido dos Trabalhadores, nos últimos anos.



[...] um conjunto espantoso de corporativistas ensandecidos, adolescentes desorientados, arrivistas lépidos, vigaristas sociais, totalitários enrustidos, messiânicos desarvorados, camponeses desesperados, intelectuais arrogantes, sindicalistas mais ou menos ignorantes, ingênuos bem intencionados e demagogos ilustrados [...] (DACANAL, 2005, p. 50).



Como ideologia, o PT foi a última ilusão do Brasil arcaico, fruto das transformações sociais e econômicas iniciadas ainda na década de 1970, abandonadas na década de 1980 e utilizada como discurso populista nas décadas posteriores.

Brasil: do milagre à esperança, não traz nenhuma receita de como transformar esse país, saqueado e vampirizado há tantos séculos, em uma nação digna, mas faz com que encaremos o que, consciente ou inconscientemente, tentamos jogar para debaixo do tapete.