terça-feira, 8 de novembro de 2016

OS PERIÓDICOS COMO FONTE DE PESQUISA  HISTÓRICA



Segundo Tânia de Luca, até a chegada da Família Real em 1808, as tipografias eram proibidas no Brasil, e  até a década de 1970 era raro uma abordagem historiográfica sobre os periódicos. Os próprios Annales, surgidos a partir da década de 1930, não haviam dado ainda espaço adequado à análise histórica dos impressos. Esta posição só seria alterada nas últimas décadas do século XX com o advento da Nova História e a importância agora dedicada à história imediata e ao “retorno” da história política.

De acordo com a autora, a escola positivista exerceu enorme influência, no que diz respeito ao desprestígio vivido pelos jornais e sua importância histórica, citando Gilberto Freyre como pioneiro inconteste, com seu trabalho de estudo sobre anúncios de jornais do século XIX, e segue relatando que somente em 1973 o jornal tornou-se objeto de estudo histórico por meio da tese de doutoramento de Arnaldo Contier, Imprensa e ideologia em São Paulo, abrindo caminho para outros trabalhos com mesmo foco de análise.


A imprensa, segundo Luca, tornou-se uma fonte privilegiada para o estudo do movimento operário entre as décadas de 1970 e 1990. Não se tratava de jornais de cunho empresarial, mas de periódicos feitos não por profissionais, mas militantes abnegados, impressos em pequenas oficinas e sem receita. De acordo com a autora, a imprensa operária, por meio de seus jornais e panfletos, que se constituíam em instrumento essencial de politização e arregimentação, tem muito a nos mostrar sobre suas correntes ideológicas, greves, mobilizações e conflitos, condições de vida e trabalho, repressão e relacionamento com empregadores.

A mesma importância teve a imprensa para as pesquisas acerca da imigração, intensificada a partir das últimas décadas do século XIX, com o propósito de alimentar a mão de obra nas regiões cafeeiras e no Sul do país. Além disso, as transformações conhecidas por algumas capitais brasileiras nas décadas iniciais do século XX foram, em várias investigações, analisados por intermédio da imprensa.

Luca pede um olhar especial sobre as revistas. Surgidas em 1900, sendo chamadas de revistas ilustradas ou de variedades, essas publicações vinham recheadas de  acontecimentos sociais, crônicas, poesias, humor, conselhos médicos, moda e regras de etiqueta, notas policiais, jogos, charadas e literatura para crianças, tais publicações forneciam um cardápio extenso, que procurava agradar a diferentes leitores, com o objetivo de se ampliar ao máximo os possíveis interessados.

Dentro deste contexto, vários estudos foram realizados com o objetivo de se analisar, por exemplo, as relações estabelecidas entre homem-mulher, ou a construção de estereótipos construídos sobre a mulher “falada”, evidenciando a importância de tal meio de comunicação no estudo histórico e social de décadas passadas.

Outro fato importante, em relação aos periódicos como fonte histórica, segundo a autora, é o papel desempenhado por jornais e revistas em regimes autoritários, como o Estado Novo e a ditadura militar. Seja como difusores dos valores defendidos pelo Estado, seja como vítimas da censura. Ainda no século XIX o que mais conseguiria caracterizar a imprensa brasileira era seu caráter doutrinário e a defesa apaixonada de ideias, além de um grupo de leitores diminuto, uma vez que o país detinha um enorme contingente de analfabetos.

De qualquer forma, a imprensa teve papel relevante em momentos políticos decisivos em nosso país, como a Independência, a abdicação de D. Pedro I, a abolição e a proclamação da República. O que a faz instrumento importante para o estudo, a análise historiográfica, colocando os jornais e revistas, os periódicos, de uma forma geral, como ferramenta de extremo valor, para que o historiador possa desbravar o passado e dar seu ponto de vista, imprimindo sua visão sobre determinado assunto em dado momento da História.

LUCA, Tânia Regina de. História dos, nos e por meio dos periódicos. In: PINSKY, Carla (org). Fontes históricas. São Paulo: Contexto, 2008. p. 111-142.

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