OS PERIÓDICOS COMO FONTE DE PESQUISA HISTÓRICA
Segundo Tânia de Luca, até a
chegada da Família Real em 1808, as tipografias eram proibidas no Brasil, e até a década de 1970 era raro uma abordagem
historiográfica sobre os periódicos. Os próprios Annales, surgidos a partir da década de 1930, não haviam dado ainda
espaço adequado à análise histórica dos impressos. Esta posição só seria
alterada nas últimas décadas do século XX com o advento da Nova História e a
importância agora dedicada à história imediata e ao “retorno” da história
política.
De acordo com a autora, a escola
positivista exerceu enorme influência, no que diz respeito ao desprestígio
vivido pelos jornais e sua importância histórica, citando Gilberto Freyre como
pioneiro inconteste, com seu trabalho de estudo sobre anúncios de jornais do
século XIX, e segue relatando que somente em 1973 o jornal tornou-se objeto de
estudo histórico por meio da tese de doutoramento de Arnaldo Contier, Imprensa e ideologia em São Paulo,
abrindo caminho para outros trabalhos com mesmo foco de análise.
A imprensa, segundo Luca,
tornou-se uma fonte privilegiada para o estudo do movimento operário entre as
décadas de 1970 e 1990. Não se tratava de jornais de cunho empresarial, mas de
periódicos feitos não por profissionais, mas militantes abnegados, impressos em
pequenas oficinas e sem receita. De acordo com a autora, a imprensa
operária, por meio de seus jornais e panfletos, que se constituíam em
instrumento essencial de politização e arregimentação, tem muito a nos mostrar
sobre suas correntes ideológicas, greves, mobilizações e conflitos, condições
de vida e trabalho, repressão e relacionamento com empregadores.
A mesma importância teve a
imprensa para as pesquisas acerca da imigração, intensificada a partir das
últimas décadas do século XIX, com o propósito de alimentar a mão de obra nas regiões
cafeeiras e no Sul do país. Além disso, as transformações
conhecidas por algumas capitais brasileiras nas décadas iniciais do século XX
foram, em várias investigações, analisados por intermédio da imprensa.
Luca pede um olhar especial sobre
as revistas. Surgidas em 1900, sendo chamadas de revistas ilustradas ou de
variedades, essas publicações vinham recheadas de acontecimentos sociais, crônicas, poesias,
humor, conselhos médicos, moda e regras de etiqueta, notas policiais, jogos,
charadas e literatura para crianças, tais publicações forneciam um cardápio extenso,
que procurava agradar a diferentes leitores, com o objetivo de se ampliar ao
máximo os possíveis interessados.
Dentro deste contexto, vários
estudos foram realizados com o objetivo de se analisar, por exemplo, as
relações estabelecidas entre homem-mulher, ou a construção de estereótipos
construídos sobre a mulher “falada”, evidenciando a importância de tal meio de
comunicação no estudo histórico e social de décadas passadas.
Outro fato importante, em relação
aos periódicos como fonte histórica, segundo a autora, é o papel desempenhado
por jornais e revistas em regimes autoritários, como o Estado Novo e a ditadura
militar. Seja como difusores dos valores defendidos pelo Estado, seja como
vítimas da censura. Ainda no século XIX o que mais conseguiria caracterizar a imprensa
brasileira era seu caráter doutrinário e a defesa apaixonada de ideias, além de
um grupo de leitores diminuto, uma vez que o país detinha um enorme contingente
de analfabetos.
De qualquer forma, a imprensa
teve papel relevante em momentos políticos decisivos em nosso país, como a
Independência, a abdicação de D. Pedro I, a abolição e a proclamação da República.
O que a faz instrumento importante para o estudo, a análise historiográfica,
colocando os jornais e revistas, os periódicos, de uma forma geral, como ferramenta
de extremo valor, para que o historiador possa desbravar o passado e dar
seu ponto de vista, imprimindo sua visão sobre determinado assunto em dado
momento da História.
LUCA, Tânia Regina de. História dos, nos e por meio dos periódicos. In: PINSKY, Carla (org). Fontes históricas. São Paulo: Contexto, 2008. p. 111-142.
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