sábado, 10 de setembro de 2016

1964: ENTRE METRALHADORAS E TANQUES.


Na noite do dia 30 de março de 1964, o então presidente João Goulart era esperado no salão do Automóvel Clube, no Rio de Janeiro, onde entrou sob grande euforia dos que o esperavam ansiosamente, em sua maioria suboficiais das forças armadas.



Mesmo contra a vontade do deputado Tancredo Neves, líder do governo na Câmara, Goulart estava decidido a falar ao público e incendiar o local com seu discurso em prol das reformas sociais e contra o Congresso e os militares de alta patente, em cerimônia transmitida por rádio e televisão.

Seus passos estavam sendo acompanhados pelas forças oposicionistas, bem como pelo governo norte-americano. A Casa Branca estava a par de todos os movimentos do presidente da República e quando encerrou seu discurso, o senador Ernâni do Amaral Peixoto decretou: “O Jango não é mais presidente da República”.

Em Juiz de Fora, o general Mourão Filho estava decidido a levar suas tropas em direção ao Rio de Janeiro para derrubar o governo. Tinha pressa, pois estava a um passo da compulsória. Com poucos meses de serviço na ativa, em breve estaria aposentado.

Aproveitando o gancho, no Rio de Janeiro, o general Arthur da Costa e Silva liderava outro grupo de militares revoltosos. Em um mundo sem WhatsApp, as notícias sobre os grupos militares que se levantavam contra o governo vinham incompletas e incertas.

Do Rio de Janeiro partiu  o Grupo de Obuses, liderado pelo capitão Carlos Alberto Brilhante Ustra, que foi enviado para combater o grupo do general Mourão Filho. Uma péssima escolha das forças legalistas, pois o capitão Ustra era partidário da ideia de depor João Goulart, e ao invés de combater Mourão Filho, aliou-se a ele.

O general Amaury Kruel, comandante do 2º Exército, com sede em São Paulo, em um telefonema, pediu ao presidente Goulart que rompesse com a esquerda, como única saída para o fim da crise que se instalara. Goulart não concordou com os termos e Kruel, sem ver o que fazer, acabou por engrossar as fileiras contrárias ao governo.

Apesar de ter criado um “dispositivo” militar, que garantisse a lealdade das Forças Armadas, o presidente João Goulart, que inicialmente não acreditava nas notícias que chegavam sobre o levante que vinha de Minas Gerais, resolveu partir para Brasília, onde achava que conseguiria erguer um grupo de resistência. Ledo engano. À essa altura, quem se dispunha a defender Goulart no poder não sabia para quê ou em benefício de quem.

De Brasília, Goulart partiu para Porto Alegre. Enquanto isso, em Brasília, em uma sessão conturbada, o Congresso declarava a vacância da presidência da República, sem que o presidente estivesse sequer ausente do país, como determinava a constituição.

Com isso abria-se o caminho para o início do regime militar no Brasil, sem que um único disparo sequer fosse dado, levando o país a um dos mais obscuros capítulos de sua história.

Para ler mais:

GASPARI, Elio. A ditadura envergonhada. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

SKIDMORE, Thomas. Brasil: de Castelo a Tancredo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.

VILLA, Marco Antonio. Ditadura à brasileira – 1964-1985: A democracia golpeada à esquerda e à direita. São Paulo: LeYa, 2014.