1964: ENTRE METRALHADORAS E TANQUES.
Na noite do dia 30 de março de 1964, o então presidente João Goulart era esperado no salão do Automóvel Clube, no Rio de Janeiro, onde entrou sob grande euforia dos que o esperavam ansiosamente, em sua maioria suboficiais das forças armadas.
Mesmo
contra a vontade do deputado Tancredo Neves, líder do governo na Câmara,
Goulart estava decidido a falar ao público e incendiar o local com seu discurso
em prol das reformas sociais e contra o Congresso e os militares de alta
patente, em cerimônia transmitida por rádio e televisão.
Seus
passos estavam sendo acompanhados pelas forças oposicionistas, bem como pelo
governo norte-americano. A Casa Branca estava a par de todos os movimentos do presidente
da República e quando encerrou seu discurso, o senador Ernâni do Amaral Peixoto
decretou: “O Jango não é mais
presidente da República”.
Em
Juiz de Fora, o general Mourão Filho estava decidido a levar suas tropas em
direção ao Rio de Janeiro para derrubar o governo. Tinha pressa, pois estava a
um passo da compulsória. Com poucos meses de serviço na ativa, em breve
estaria aposentado.
Aproveitando
o gancho, no Rio de Janeiro, o general Arthur da Costa e Silva liderava outro
grupo de militares revoltosos. Em um mundo sem WhatsApp, as notícias sobre os
grupos militares que se levantavam contra o governo vinham incompletas e
incertas.
Do Rio
de Janeiro partiu o Grupo de Obuses,
liderado pelo capitão Carlos Alberto Brilhante Ustra, que foi enviado para
combater o grupo do general Mourão Filho. Uma péssima escolha das forças
legalistas, pois o capitão Ustra era partidário da ideia de depor João Goulart,
e ao invés de combater Mourão Filho, aliou-se a ele.
O
general Amaury Kruel, comandante do 2º Exército, com sede em São Paulo, em um
telefonema, pediu ao presidente Goulart que rompesse com a esquerda, como única
saída para o fim da crise que se instalara. Goulart não concordou com os termos
e Kruel, sem ver o que fazer, acabou por engrossar as fileiras contrárias ao governo.
Apesar
de ter criado um “dispositivo” militar, que garantisse a lealdade das Forças Armadas,
o presidente João Goulart, que inicialmente não acreditava nas notícias que
chegavam sobre o levante que vinha de Minas Gerais, resolveu partir para
Brasília, onde achava que conseguiria erguer um grupo de resistência. Ledo
engano. À essa
altura, quem se dispunha a defender Goulart no poder não sabia para quê ou em
benefício de quem.
De
Brasília, Goulart partiu para Porto Alegre. Enquanto isso, em Brasília, em uma
sessão conturbada, o Congresso declarava a vacância da presidência da República,
sem que o presidente estivesse sequer ausente do país, como determinava a
constituição.
Com
isso abria-se o caminho para o início do regime militar no Brasil, sem que um
único disparo sequer fosse dado, levando o país a um dos mais obscuros
capítulos de sua história.
Para
ler mais:
GASPARI, Elio. A
ditadura envergonhada. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
SKIDMORE,
Thomas. Brasil: de Castelo a Tancredo.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.
VILLA, Marco
Antonio. Ditadura à brasileira –
1964-1985: A democracia golpeada à esquerda e à direita. São Paulo: LeYa, 2014.