CENAS ANTERIORES A 1964: JOÃO GOULART.
Com a renúncia de Jânio Quadros, João Goulart, que estava em Cingapura, liderando
uma missão pela Europa Oriental, União Soviética e China, tornava-se o novo presidente do Brasil.
Entretanto, as forças políticas conservadoras, incluindo-se aí os generais das
Forças Armadas, não poderiam permitir que alguém ligado ideologicamente ao
socialismo assumisse o comando da nação.
João
Goulart havia sido ministro de Getúlio Vargas, acusado de populismo por ter se
envolvido na polêmica do aumento de 100% do salário mínimo em 1954 e fora eleito
vice-presidente da República pela legenda adversária do presidente eleito,
Jânio Quadros.
Pela
constituição, o vice deveria assumir, no caso de vacância do cargo, e assim se
iniciou uma campanha nacional em defesa da constituição, liderada por Leonel
Brizola, cunhado de Goulart. A
oposição, aproveitando-se da situação, aprovou uma emenda constitucional, de
autoria do deputado Raul Pilla, mudando o regime de governo de presidencialista
para parlamentarista, com eleição indireta pelo Congresso Nacional.
Os
meses que se seguiram foram de grande tensão política, e em 6 de janeiro de
1963 foi realizado plebiscito popular sobre o regime de governo, vencendo o
presidencialismo, defendido por Juscelino Kubitschek e Carlos Lacerda, por larga diferença.
Em
meio a toda essa turbulência política, a inflação avançava e a balança
comercial encolhia. João
Goulart, definitivamente presidente da República, em meio a problemas sociais e
econômicos, já começava a sonhar com a reeleição, diga-se de passagem não permitida
pela constituição vigente.
As
tensões aumentavam com greves e revoltas dentro da própria Marinha, por exemplo.
Goulart havia tentado, em outubro, impor um estado de sítio, como manobra para
seu próprio golpe de estado (com intervenção nos governos de São Paulo,
Guanabara e Pernambuco), o que foi combatido pela própria base aliada.
Em 13
de março de 1964, os partidos aliados do governo, sindicatos e movimentos
sociais conseguiram reunir mais de 300 mil pessoas no comício da Central do
Brasil, onde João Goulart defendeu a reforma agrária e atacou os militares. Selava
ali o seu destino, pois em resposta, a Igreja Católica e as forças
conservadoras organizaram a Marcha com Deus pela Família no dia 19 de março, levando
400 mil pessoas às ruas e fomentando o desejo dos militares de tomarem o poder
e ver João Goulart pelas costas.
Hasta
la vista, baby.
Para
ler mais:
NAPOLITANO, Marcos. O regime militar brasileiro. São Paulo:
Atual, 1998
GASPARI, Elio. A
ditadura envergonhada. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
VILLA, Marco Antonio. Ditadura à brasileira – 1964-1985: A democracia golpeada à esquerda
e à direita. São Paulo: LeYa, 2014.