PERDENDO O BONDE.
DACANAL, José Hildebrando. Brasil: do milagre à tragédia (1964 – 2004). Porto Alegre: Leitura
XXI, 2005.
Em seu
ensaio, Brasil: do milagre à tragédia,
o professor e jornalista José Hildebrando Dacanal, tenta traçar um paralelo
entre os distintos países chamados Brasil, aquele das décadas de 1960/70,
dominado pela mão dos militares e o Brasil da década de 2000, e seus problemas.
Dacanal
expõe, entre outros pontos, o que favoreceu o surgimento do milagre brasileiro, como “resultado de
um conjunto de fatores obviamente heterogêneos” (DACANAL, 2005, p. 15) que
transformou um país de características agrárias, levando-o da pré-história à
era do petróleo, dos transportes rápidos e das comunicações internacionais.
Entretanto,
segundo o autor, o esgotamento do projeto militar, pressões externa e interna, entre
outros fatores, levaram o país à década
perdida dos anos 1980.
Dacanal
é enfático em nos mostrar que o vácuo criado pelo retorno dos militares aos
quartéis e a devolução do comando do país à sociedade civil, promoveu o retorno
da velha elite política, que afastada do poder há mais de duas décadas, só
tinha em mente o projeto de se apropriar do Erário Público, “[...] na senda da secular
tradição das classes dominantes ibéricas, cuja visão patrimonialista sempre
englobou, antes de tudo, o próprio Estado e os recursos de que ele se adona
[...]” (DACANAL, 2005, p. 55).
Prova disso
foi a enxurrada de concessões políticas na Era Sarney, com o único objetivo de
se comprar apoio político. Tal nefasta artimanha seria copiada em governos
futuros, vide a compra de apoio para a aprovação da emenda constitucional que
permitiria a reeleição para chefes do Executivo, realizada no governo de
Fernando Henrique Cardoso, ou no processo do mensalão do governo Lula.
Segundo
o autor, “[...] esse perverso conúbio das velhas oligarquias com as novas
forças gestadas [...] visava como sempre, à pilhagem do Estado” (DACANAL, 2005,
p. 56).
Indo
além, Dacanal expõe, o que para ele se transformou o Partido dos Trabalhadores,
nos últimos anos.
[...]
um conjunto espantoso de corporativistas ensandecidos, adolescentes
desorientados, arrivistas lépidos, vigaristas sociais, totalitários enrustidos,
messiânicos desarvorados, camponeses desesperados, intelectuais arrogantes,
sindicalistas mais ou menos ignorantes, ingênuos bem intencionados e demagogos
ilustrados [...] (DACANAL, 2005, p. 50).
Como
ideologia, o PT foi a última ilusão do Brasil arcaico, fruto das transformações
sociais e econômicas iniciadas ainda na década de 1970, abandonadas na década
de 1980 e utilizada como discurso populista nas décadas posteriores.
Brasil: do milagre à esperança, não
traz nenhuma receita de como transformar esse país, saqueado e vampirizado
há tantos séculos, em uma nação digna, mas faz com que encaremos o que, consciente ou inconscientemente, tentamos
jogar para debaixo do tapete.
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