CULTURA, ETNOCENTRISMO E DETERMINISMO BIOLÓGICO
Segundo Laraia (2006), Heródoto
se surpreendeu com o fato dos lícios tomarem o nome da família da mãe, e não a
do pai, como os gregos. Para esses últimos, todos aqueles que não fossem seus iguais
não passavam de bárbaros.
Da
mesma forma, Tácito, romano e de visão tão etnocêntrica quanto Heródoto, achava
extravagante a fato dos germânicos se satisfazerem com apenas uma mulher.
Marco
Polo descreveu os costumes dos tártaros como um povo que as mulheres tomam à frente dos interesses da casa para que os homens se dediquem ao que interessa:
a caça, a guerra e a falcoaria.
No
Brasil colônia, o padre José de Anchieta relatava as peculiaridades dos tupinambás:
selvagens antropófagos.
No
século XVI, o filósofo francês Jean Bodin, desenvolveu a teoria que os povos do
norte tem como líquido dominante o fleuma, enquanto os do sul são dominados
pela bílis negra. Por isso, obviamente, os nórdicos são fiéis, leais e pouco
interessados sexualmente. Enquanto isso, os povos do sul são maliciosos,
engenhosos, abertos e mal adaptados para as atividades políticas.
De acordo com o autor, são
velhas as teorias que atribuem capacidades específicas a determinados
grupos humanos, ou mesmo às diferenças do ambiente geográfico.
Boa
parte dessas teorias, que foram desenvolvidas no final do século XIX e no
início do século XX, ganharam grande popularidade. Exemplo significativo desse
tipo de pensamento pode ser encontrado em Huntington, em seu livro Civilization and Climate (1915), no qual
formula uma relação entre a latitude e os centros de civilização, considerando
o clima como um fator importante na dinâmica do progresso.
No
final do século XVIII e no princípio do seguinte, o termo germânico Kultur era utilizado para simbolizar
todos os aspectos espirituais de uma comunidade, enquanto a palavra francesa Civilization referia-se principalmente
às realizações materiais de um povo.
Ambos
os termos foram sintetizados por Edward Tylor (1832-1917) no vocábulo inglês Culture, que "tomado em seu amplo
sentido etnográfico é este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças,
arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos
pelo homem como membro de uma sociedade".
Com
esta definição Tylor abrangia em uma só palavra todas as possibilidades de
realização humana.
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. Rio
de Janeiro: Zahar, 2001.
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