segunda-feira, 3 de setembro de 2018



MÚSICA É HISTÓRIA.












             Segundo Marcos Napolitano, o Brasil é uma das grandes usinas sonoras do planeta. País onde a música ocupa lugar de destaque na história sociocultural, ajudando a pensar a sociedade, bem como a nossa história.
De acordo com o autor, a música é um produto do século XX, e está intimamente ligada à urbanização e ao surgimento das classes populares e médias em nosso país.
A música popular teria surgido no final do século XIX e início do século XX e, para os críticos eruditos, representava a perda do estado de pureza sociológica e étnica que só a música erudita era capaz de expressar.
Tal qual o cinema, a música popular era, para a elite intelectual, um produto dirigido para as “massas musicalmente burras e politicamente perigosas” (NAPOLITANO, 2016, p. 18), refletindo um processo de conflito estético e ideológico.
Segundo ao autor, três fatores foram de extrema importância para a consolidação da música popular nas primeiras décadas do século XX: o surgimento do fonograma, a expansão do rádio como meio de comunicação de massa, e o surgimento do cinema falado.
A cidade do Rio de Janeiro, até os anos 1950, foi de grande importância por ser ponto de encontro de vários estilos musicais, bem como de várias influências inter-raciais e inter-regionais, como, por exemplo, a chegada de levas de migrantes nordestinos, em busca de uma vida melhor.
O autor enumera três fases importantes para a formação da tradição musical popular em nosso país: até os anos 1920/1930, ocorreu a consolidação do samba como gênero predominante no Brasil; a partir de 1959 até 1968, ocorreu a mudança do conceito de música popular brasileira; e entre 1972-1979 consolidou-se o amplo conceito como conhecemos hoje de MPB.
Napolitano conta que até meados dos anos 1940 o rádio estava em franca expansão, principalmente entre as classes populares. A cena musical foi dominada, entre as décadas de 1940 e 1950 pelo samba-canção, ritmo abolerado, de andamento lento.
Segundo Castro (2015) os sambas-canções eram sambas, lentos, românticos e confessionais.
O samba fora para a cama com a canção, numa romântica noite de bruma, e resultara neles, os sambas-canções, com suas letras narrativas, que contavam uma história — e esta, com frequência, se referia a um caso de amor desfeito, como de praxe nas músicas românticas em qualquer língua (CASTRO, 2015, p. 70).

Napolitano completa dizendo que as letras destas canções haviam perdido a ironia e o humor, presentes nas canções dos anos 1930. À época eram carregadas de sentimentalismo.
Com o surgimento da Bossa Nova, em 1959, o conceito de música popular se altera. É dada uma maior importância à mistura dos gêneros musicais brasileiros com estilos internacionais, como, por exemplo, o jazz norte-americano.
A década de 1960 mostra-se rica em embates no cenário musical. Os Festivais da Canção, apresentados pela televisão, acabam por expandir o conceito de música popular criando aquilo que seria consolidado, na década seguinte, como MPB (Música Popular Brasileira).
Com a chegada da década de 1980, a juventude escolheria um outro estilo musical: o rock.
Napolitano destaca que, para aqueles que se interessam pela pesquisa no campo de História e Música, a articulação entre texto e contexto deve ser encarada como primordial. Além disso, deve-se articular a estrutura geral da canção que envolve elementos de natureza diversa ao longo da análise, cabendo ao pesquisador tentar perceber as várias partes que compõem a estrutura.
Dessa forma, escapamos da armadilha de realizarmos nossa pesquisa analisando apenas a letra da canção, ato muito comum em trabalhos recentes, respeitando outras características que compõem a fonte sonora.
Segundo o autor, o historiador que deseje se aventurar pelo campo da pesquisa histórica-musical deve respeitar alguns parâmetros básicos para a análise da canção, que são:

1. Letra
1.1. Tema geral;
1.2. Identificação do “eu-poético”;
1.3. Ocorrência de metáforas e alegorias;
1.4. Ocorrência de referências literárias.
2. Música
2.1. Melodia;
2.2. Arranjo;
2.3. Andamento;
2.4. Vocalização;
2.5. Gênero musical;
2.6. Intertextualidade musical;
2.7. Efeitos
Napolitano destaca que a música brasileira forma um enorme e rico patrimônio histórico e cultural, sendo uma das nossas grandes contribuições para cultura da humanidade. 
Além disso, constitui território de encontros entre o local, o nacional e o cosmopolita; entre a diversão, a política e a arte, servindo como importante instrumento de pesquisa histórica.
É importante lembrar que o historiador deve dialogar com outras disciplinas para o pleno êxito de sua pesquisa. A música constitui um grande conjunto de documentos históricos para se conhecer não apenas a história da música brasileira, mas a própria História do Brasil.
Além disso, nossa música possui uma importância cultural e política que tem muito pouco paralelo em outros países.

 NAPOLITANO, Marcos. História & música. Belo Horizonte: Autêntica, 2016.                   CASTRO, Ruy. A noite do meu bem. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.



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