terça-feira, 12 de setembro de 2023

 

O MONOTEÍSMO NO EGITO ANTIGO

 


Apesar de sua natureza proeminentemente politeísta, o Egito antigo passou por um curto período dedicado ao monoteísmo.  No Novo Império, precisamente durante o governo de Amenhotep III, devido a disputas entre o faraó e os sacerdotes de Amon, cresceu a importância dada ao deus Aton, o disco solar.

Por volta de 1400 a.C., Amenhotep III realizadou algumas transformações religiosas em seu governo, dando maior espaço para Aton, uma divindade que já existia no panteão dos deuses egípcios, mas como um deus de segunda categoria. Com a morte de Amenhotep III, seu filho Amenhotep IV assume e leva adiante as transformações religiosas iniciadas por seu pai. Sua reforma religiosa é considerada o episódio religioso-político mais controverso da história do Egito antigo.

Amenhotep IV superou seu pai, elevando Aton a deus único, em detrimento das outras divindades egípcias, tornando-o o deus supremo e obrigando todo o Egito antigo a se tornar monoteísta. Amenhotep IV ampliou a importância de Aton a tal ponto que Amon teve sua hegemonia reduzida até ser totalmente omitido das doutrinas.

Aton, diferentemente das demais divindades egípcias, não tinha uma representação antropozoomórfica, sendo representado por um sol cujos raios terminavam em pequenas mãos. De fato, isso também constituía uma intensa alteração no que diz respeito às formas figurativas pelas quais as divindades eram retratadas no Egito antigo.

O “Hino a Aton” exprime a grandiosidade pela qual se buscava impor àquela sociedade: “És gracioso, grande, resplandecente e estás muito acima de todas as terras. [...] O mundo surgiu pela tua mão [...]”. De qualquer forma, Amenhotep IV promoveu um monoteísmo agressivo, diminuindo a distância entre a divindade e a família real, tornando-se quase semelhante ao seu próprio deus.

Amenhotep IV mudou a capital de seu reino de Tebas para a nova Akhetaton (“Horizonte de Aton”), que seria a cidade sagrada de Aton. Antes de mudar a capital, Amenhotep ("Amon está satisfeito") IV mudou seu próprio nome para Akhenaton ("o espírito atuante de Aton"), reforçando a negação a Amon por parte do rei e sua ênfase em Aton.

Entretanto, apesar de toda sua determinação em implantar o monoteísmo no Egito antigo, o povo reagiu de maneira negativa a essa nova forma de religião. Os egípcios antigos estavam acostumados aos contrastes entre a luz e a escuridão, bem como à luta entre o bem e o mal. A doutrina de Akhenaton negava a dualidade, e enfatizava o aspecto positivo, a luz. O mundo inferior, com seus demônios, não tinha lugar nos conceitos da nova religião.

E aparentemente, mesmo aqueles que seguiam Akhenaton não seguiam seus ensinamentos completamente. Escavações indicam que as pessoas, ao menos em particular, mantinham suas crenças tradicionais. Elas certamente sentiram a perda de seus deuses e de suas doutrinas, o que corroborou para o retorno das antigas práticas politeístas assim que Akhenaton deixou de existir.

 

Referências:

SALES, José das Candeias. As divindades egípcias. Uma chave para
a compreensão do Egito Antigo.
Lisboa: Estampa, 1999.

SILVERVAN, David. O divino e as divindades na antigo Egito. In: SHAFER, Byron (Org.). As religiões no Egito antigo: deuses, mitos e rituais domésticos. São Paulo: Nova Alexandria, 2002.

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