HISTÓRIA E ROCK NO BRASIL DOS ANOS 1980.
A música pode ser uma ferramenta historiográfica de extrema importância para que possamos entender melhor o contexto social, cultural e, sobretudo, político de determinado recorte histórico. Prova disso é a grande quantidade de trabalhos acadêmicos relacionados à música, como se pode ver nas referências abaixo.
Em
nosso país, por exemplo, na década de 1980, o Brasil vivia os últimos momentos
da ditadura militar. O regime já mostrava sinais de cansaço e o modelo
econômico proposto por Delfim Neto já não era capaz de influenciar a opinião
pública, muito pelo contrário, vivíamos uma das piores crises econômicas de
nossa história. O “milagre econômico” dos anos 1970 tinha dado lugar à “década
perdida” dos 1980. As manchetes dos jornais estampavam em letras garrafais: inflação, desemprego e recessão.
Na
Europa, especialmente na Inglaterra, os jovens haviam rompido com as convenções
sociais ao darem surgimento ao movimento punk, onde a ordem era “do it yourself”, ou faça você mesmo, com
músicas de dois ou três acordes criadas e executadas por músicos que não sabiam
tocar e cantores que não sabiam cantar. O que valia mesmo era fazer o que se
tinha vontade, mesmo sem talento ou conhecimento erudito para tal.
Esse
movimento vinha de encontro ao virtuosismo característico do rock progressivo
que reinava na época, com acordes super elaborados e canções longas que criavam
um clima intimista, onde o público absorvia o som, mas não participava.
Diferente do punk, onde não havia virtuoses, pois praticamente ninguém sabia
tocar nada e o público interagia completamente com os roqueiros, subindo ao
palco e transformando as apresentações em total balbúrdia.
Óbvio
que esse movimento daria frutos em terras tropicais. E deu. A juventude bem
nascida, “burguesa”, que tinha acesso a discos e revistas, começou a incorporar
o espírito punk, e, mesmo sem saber o que era um lá maior sustenido, começou a
formar grupos de rock entre os colegas do colégio e a tocar nas garagens dos
condomínios.
A
repressão política e os problemas sociais seriam o tema mais comum dessa nova
música que começava a se desenvolver no Brasil. Além disso, o pessimismo diante
da incerteza do futuro, as frustrações com a família e o protesto contra o
Estado formavam a via comum das músicas da época, através de bandas que surgiam
principalmente em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, capital política de
onde vieram Plebe Rude e Aborto Elétrico.
Em
1985, a banda Paralamas do Sucesso já era detentora de um certo reconhecimento
nacional. Seu vocalista, Herbert Viana foi procurado pelos integrantes da Plebe
Rude, banda de forte influência punk. Desse
encontro surgiu “O Concreto já Rachou”, um marco no rock brasileiro, que entre
outros questionamentos, com reminiscências de João Cabral de Melo Neto,
perguntava:
Com tanta riqueza por aí
onde é que está,
cadê sua fração?
A banda Aborto Elétrico, que tinha como
vocalista um tal de Renato Russo, se fragmentou e deu origem às bandas Legião
Urbana e Capital Inicial. As bandas originadas da rupura do Aborto Elétrico
mantiveram o discurso panfletário contra o Estado opressor, que caminhava para
os seus últimos dias. Logo a
ditadura militar se extinguiria e veríamos surgir a Nova República.
Mas,
isso é uma outra história.
Para
aprender mais, lendo:
RIBEIRO, Júlio Naves. Lugar nenhum ou bora bora? São
Paulo: Annabele, 2009.
RAMOS, Eliana Batista. Rock dos anos 80: A construção de uma
alternativa de contestação juvenil. 2010. Dissertação para obtenção do
título de mestre em História Social. PUC: São Paulo. 2010.
PRADO, Gustavo dos Santos. A juventude dos anos 80 em ação: música,
rock e crítica aos valores modernos. revista Desenredos - ISSN 2175-3903 - ano III - número 10 -
teresina - piauí – julho agosto setembro de 2011
ROCHEDO, Aline do
Carmo. Os filhos da revolução: A
juventude urbana e o rock brasileiro dos anos 1980. 2011. Dissertação para obtenção do
título de mestre em História Social. UFF: Niterói. 2011.
OSTERNO, Maria do Livramento Rios. A canção engajada no anos 80: O
rock não errou. 2009. Dissertação para obtenção do título de mestre em
Linguística. UFC: Fortaleza. 2009.
RANGEL, Carlos Roberto Rangel; TRINDADE, Luane Nunes. Rock: Cultura
política e movimentos sociais. 2013.
GAMA
, André de Araújo; MACIE, Elisângela. História e Música: um Brasil dos anos
80. 2010. http://www.webartigos.com/artigos/historia-e-musica-um-brasil-dos-anos-80/60704/
Para aprender mais, ouvindo no volume máximo:
LEGIÃO URBANA. Legião Urbana. produtor:
Mayrton Bahia. EMI, 1985. LP
PLEBE RUDE. O concreto já rachou. produtor:
Herbert Vianna. EMI, 1986. LP.
CAPITAL INICIAL. Capital Inicial. produtor:
Bozo Barreti. Polygram, 1986. LP.
Para aprender mais, assistindo:
Somos
tão jovens. Direção: Antônio Carlos
de Fontoura. Brasil: Imagem Filmes, 2013. 104 min.
Importante. E quanto ao professor, ainda que não seja um músico, é importante ter informações básicas acerca dos estilos musicais( timbres, ritmos etc) e fazer análise das letras.
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